Reconstrução mamária devolve autoestima das mulheres e ajuda no tratamento do câncer
“Me senti poderosa”. Esse é o relato de Auxiliadora Lima de Souza, de 52 anos, que há dois anos perdeu a mama esquerda por conta de um câncer de mama, mas na mesma cirurgia fez a reconstrução mamária. O procedimento de reconstrução na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), unidade vinculada à Secretaria de Estado de Saúde (Susam), beneficiou 30 mulheres, entre janeiro e agosto de 2019.
A reconstrução mamária é uma cirurgia plástica reparadora, feita após a retirada total ou parcial da mama. A Lei 12.802/2013 garante à paciente o direito de realizar o procedimento por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) durante o mesmo procedimento de retirada do tumor, se houver condições médicas e clínicas.
Foi o que aconteceu com Auxiliadora, que descobriu um nódulo no seio esquerdo fazendo o autoexame. Depois da biópsia que constatou ser um câncer de mama, ela fez a mastectomia, que retirou sua mama esquerda em 2017.
Na mesma cirurgia, Auxiliadora fez a reconstrução mamária na FCecon. “A mulher é vaidosa e pensa ‘vou ficar sem meu seio’. Já fiz tudo com a reconstrução e foi ótimo”, conta.
Na avaliação do mastologista e diretor-presidente da instituição, Gerson Mourão, fazer a mastectomia e a reconstrução no mesmo momento representa um ganho às mulheres. “A mastectomia é algo traumático para as mulheres e a possibilidade daquela paciente de, na mesma cirurgia de retirada da mama fazer a reconstrução, é algo benéfico nas questões psicológica e emocional do tratamento”, explica.
Números – De janeiro a agosto de 2019, 30 mulheres passaram pela cirurgia de reconstrução mamária na Fundação Cecon, serviço que é coordenado pelo cirurgião plástico Roberto Pereira.
O setor realizou no mês de setembro deste ano, já em alusão ao Outubro Rosa, um mutirão de cirurgias na unidade com procedimentos como colocação de prótese, reconstrução do complexo aréolopapilar e de simetrização.
Renovação – Foi pelo procedimento de simetrização que Auxiliadora passou neste ano. A cirurgia plástica é realizada para que as pacientes fiquem com mamas simétricas. Auxiliadora fez a simetrização na mama direita para que ficasse semelhante ao tamanho da mama esquerda.
“Minha recuperação foi boa, ótima. Me senti poderosa”, disse Auxiliadora, que também afirmou que se “sentiu turbinada”.
Acompanhamento – Sentimentos de autoestima elevada e autoconfiança, como se sentiu Auxiliadora, são reflexo da reconstrução mamária e um trabalho de acompanhamento dado pelos profissionais da Psicologia da Fundação Cecon.
Segundo o psicólogo da FCecon, Sandro Soares, a instituição oferece a chamada interconsulta: na consulta médica, além do médico, paciente e familiar, há a presença do psicólogo. “Exatamente porque temos conhecimento de que, quando o paciente ou a família recebem a notícia, o diagnóstico de câncer, automaticamente existem reações emocionais extremamente impactantes. Como a Psicologia se faz presente nesse momento, já acolhe tanto a família, quanto o paciente neste momento, procurando desmistificar, esclarecer que o câncer tem tratamento, que tem grandes possibilidades de cura”, explica Soares.
O trabalho da Psicologia é atuar e ajudar paciente e familiar no momento das reações emocionais impactantes, especialmente no caso de mulheres que descobrem ter o câncer de mama. “Quando evolui para uma mastectomia, onde a mulher tem que perder a mama, é um novo corpo ali, isso mexe demais com a mulher. E o trabalho da Psicologia é exatamente trabalhar essa adaptação dessa mulher com esse novo corpo, resgatando a autoestima da mulher, fazendo com que ela volte a se amar, mesmo nesse corpo diferente. Esse sentimento de autoconfiança, autoestima e otimismo ele vai ser fundamental pra motivação e o decorrer do tratamento dela”, destaca.
Resgate – A reconstrução mamária é uma espécie de resgate para a mulher. Soares avalia que a cirurgia plástica após a mastectomia, que chega a ser uma mutilação, é uma “injeção de ânimo na mulher, que fica mais motivada, mais confiante e mais otimista”.
A agora renovada Auxiliadora faz o acompanhamento, de quatro em quatro meses, com mastologista, cirurgião plástico e oncologista clínico, fazendo ainda o uso de medicamento de quimioterapia oral, aguardando nos próximos anos poder tocar o Sino Dourado, que simboliza a cura e a alta oncológica.
“Às vezes estou esperando a consulta e quando vejo as meninas tocarem o Sino, eu penso ‘será que sou eu a próxima?’”, diz Auxiliadora.
Texto: Laís Motta/FCecon
Fotos: Roberto Carlos/Secom