Pesquisa identifica que 25% das mulheres privadas de liberdade são portadoras do HPV

Um levantamento feito durante o projeto de doutorado da médica da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), Hilka Espírito Santo, identificou que 25% das mulheres privadas de liberdade do sistema prisional de Manaus – aberto, semiaberto, fechado e provisório – são portadoras do Papilomavírus Humano (HPV) – responsável por causar as lesões precursoras do câncer de colo de útero. Manaus, 19/06/2019. A Vara de Execuções Penais (VEP) promoveu uma ação em prol da saúde feminina de cumpridoras de pena dos regimes aberto e semi aberto. O evento foi realizado no Salão Nobre do Fórum Ministro Henoch Reis. Foto: Raphael Alves

 

A pesquisa, denominada “Autocoleta e teste de DNA para HPV como rastreio para o câncer de colo uterino em mulheres privadas de liberdade”, foi feita com 216 mulheres; desse total, 55 apresentaram alterações nos exames.

 

Os resultados ainda são parciais, e a pesquisa tem como objetivo testar o uso do dispositivo de autocoleta “Coari” em populações de difícil acesso ao sistema de saúde.

 

O dispositivo foi produzido pela empresa Kolplast, que doou 450 exemplares para a pesquisa. O projeto está sendo realizado junto às universidades Estadual Paulista (Unesp), Nilton Lins e Federal do Amazonas (Ufam), além de contar com a participação de alunos do Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic-FCecon).

 

Faixa de risco – De acordo com Hilka Espírito Santo, a equipe está na fase de análise dos dados, mas alerta que a porcentagem de mulheres contaminadas com o HPV é considerada alta. Segundo ela, isso se deve ao fato delas estarem em uma faixa considerada de risco – múltiplos parceiros, tabagismo, não utilizam preservativo, usam drogas ilícitas e não realizam exames de saúde periódicos.

 

Política pública – Para a médica pesquisadora, com os resultados do trabalho, pretende-se mostrar que a autocoleta é um exame viável para as mulheres privadas de liberdade e, posteriormente, apresentar a proposta aos Ministérios da Saúde (MS) e de Justiça e Segurança Pública.

 

“Queremos sensibilizá-los sobre a importância desse exame, de forma que essas mulheres façam parte da política de rastreio do câncer de colo de útero porque, efetivamente, elas não participam”, lamentou.

 

Chefe do serviço de Mastologia da FCecon, Hilka Espírito Santo ressaltou que a metodologia utilizada é simples e, por isso, as mulheres não precisam sair do sistema prisional nem do médico para realizar o exame, e o custo financeiro é menor quando há a necessidade de levá-las ao sistema de saúde.

 

Acompanhamento – Conforme a médica ginecologista da FCecon Mônica Bandeira, as mulheres que apresentaram resultados positivos para HPV de alto risco – oncogênicos, ou seja, que causam câncer – irão realizar a colposcopia. Ela disse que o exame localiza a parte doente do colo uterino que apresenta as lesões pré-cancerosas, através de um aparelho semelhante a um binóculo, que possui lentes especiais de aumento.

 

Segundo a médica especialista, os casos confirmados com essas alterações serão submetidos imediatamente, por meio do projeto “Ver e tratar o colo uterino”, à conização – pequena, simples e rápida cirurgia com a retirada da parte doente do colo uterino em forma de cone.

 

“É importante ressaltar que o material extraído será encaminhado, obrigatoriamente, para biópsia e análise no laboratório de Patologia. As pacientes confirmadas para lesões precursoras, após a conização, serão acompanhadas a cada seis meses, durante um período de dois anos, na FCecon, sendo submetidas aos exames preventivo (Papanicolau) e de colposcopia. As mulheres com resultado positivo para câncer serão tratadas por meio de cirurgia e/ou radioterapia e/ou quimioterapia, dependendo do estadiamento da doença”, frisou.

 

Parcerias – O projeto conta com o apoio do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJ-AM), por meio da Vara de Execuções de Medidas e Penas Alternativas (Vemepa), Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio do Programa Justiça Presente, Lar das Marias e Secretaria de Administração Penitenciária (Seap).

 

Autocoleta – É um método utilizado em vários países desenvolvidos por populações com dificuldades de acesso à saúde. O dispositivo de autocoleta permite que a própria mulher, sozinha – em um ambiente privado – introduza o aparelho no canal vaginal, sendo semelhante a um aplicador de creme vaginal.

 

HPV – O Papilomavírus Humano é um vírus muito contagioso, adquirido sexualmente, que causa, além de verrugas genitais, vários tipos de câncer em ambos os sexos – como colo uterino, vagina, pênis, garganta e ânus.

Texto: Luís Mansueto/FCecon

Foto: Raphael Alves