Tabagismo contribui para o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, alertam especialistas da FCecon

Dr Fábio Bindá

No Dia Mundial sem Tabaco, comemorado em 31 de maio, a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), unidade vinculada à Secretaria de Estado de Saúde (Susam), lança um alerta sobre a importância do combate ao consumo do produto que, segundo especialistas, está relacionado a pelo menos oito tipos de cânceres. Juntos, eles somam 19,4% do total de diagnósticos previstos para 2018 no Estado.

São eles: câncer de pulmão, brônquio, traqueia (os três somam 370 casos previstos para este ano), estômago (460 casos), boca (120), laringe (100), bexiga (50) e esôfago (50 – apenas em homens). Juntos, eles somarão 1.140 dos 5.860 novos diagnósticos previstos para o Amazonas, em 2018, segundo projeção mais recente do Instituto Nacional do Câncer (inca), órgão subordinado ao Ministério da Saúde (MS).

Entre as neoplasias malignas de maior associação com o tabagismo, estão as da cavidade oral e laringe. O cirurgião de cabeça e epscoço da FCecon, Fábio Bindá, destaca que o consumo de tabaco e o alcoolismo, são os principais fatores externos causadores da doença.

“O Inca prevê 100 casos de câncer de boca (cavidade oral) no Amazonas, neste ano, sendo 80 deles, em homens, que ainda são os maiores consumidores do tabaco. Contudo, os casos de mulheres com esse tipo de tumor na FCecon têm aumentado com o passar dos anos, tornando-se cada vez mais frequentes”, alertou.

Ele explica que o hábito de fumar causa alterações no DNA das células saudáveis, estimulando o aparecimento de tumores malignos. “De uma forma bem didática, costumamos dizer que os tumores malignos se desenvolvem a partir de uma célula que se imortaliza, diferente das demais, que morrem durante o processo de envelhecimento do corpo. A partir daí, essa célula tumoral cresce de forma desordenada, gerando o câncer”, destacou.

 

Outras localizações

 

O cirurgião oncológico da FCecon, Manoel Jesus Pinheiro Júnior, explica que a dependência do cigarro provoca inúmeras doenças cardiovasculares, além de contribuir para o desenvolvimento dos cânceres dos aparelhos digestivo, urinário e respiratório – este último, em maior proporção.

Os mais comuns, segundo ele, são os cânceres de pulmão, brônquio e traqueia. “No caso do pulmão, mais de 90% dos cânceres estão relacionados ao consumo de cigarro. Inclusive, é importante ressaltar que fumantes passivos também estão sujeitos a desenvolverem doenças dessa natureza”, assegurou o especialista. O câncer de pulmão é também um dos mais letais.

Sobre os cânceres de estômago, Manoel Jesus ressalta que as substâncias tóxicas ficam em contato com a saliva e acabam sendo ingeridas, agredindo o estômago e todo o aparelho digestivo. “A bexiga também é afetada pelas substâncias químicas carcinogênicas do cigarro. Quando inalamos a fumaça, essas substâncias entram na nossa corrente sanguínea. Em seguida, são filtradas pelos rins e quando urinamos, parte delas ainda está ali. Esse processo aumenta em até três vezes as chances de se desenvolver o câncer de bexiga”, explicou.

 

*Câncer de mama*

 

Além disso, estudos recentes mostraram evidências de que o tabagismo também está relacionado ao câncer de mama, principalmente em mulheres jovens. Esse tipo de neoplasia maligna é a segunda em incidência no Amazonas, no sexo feminino. Mulheres jovens (com até 44 anos), que consomem mais de um maço de cigarro ao dia, há mais de 10 anos, têm elevados os riscos de desenvolver o principal tipo da doença: o carcinoma ductal.

O gerente do Serviço de Mastologia da FCecon, Dr. Gerson Mourão, comenta que dois fatores explicam a incidência do câncer de mama em mulheres jovens e fumantes. “O primeiro é que, ao longo dos anos, a nicotina vai se alojando no ducto mamário, conhecido como o local de passagem do leite durante a amamentação. Isso pode provocar alterações malignas. E o segundo é que, as mamas mais jovens passam por modificações para uma espécie de amadurecimento, e estão mais propícias a desenvolverem o câncer, se estão em contato com substâncias nocivas. As mamas de mulheres que já amamentaram, por exemplo, já estão mais protegidas dessas essas alterações. Mas é importante esclarecer que as mulheres jovens com câncer de mama, ainda são minoria no mundo”, reforçou.

Os tratamentos para os diversos tipos de neoplasias malignas são ofertados pela FCecon. As principasi modalidades são: cirurgia, quimioterapia, radioterapia e iodoterapia. Eles podem ocorrer de forma individual ou associada, dependendo do estadiamento e do tipo de câncer diagnosticado. Especialistas alertam que as chances de cura são maiores em pacientes com diagnosticados precocementes, podendo chegar a 90%.

 

*Data pontual*

 

O Dia Mundial Sem Tabaco foi criado em 1987, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para alertar sobre as doenças e mortes que podem ser evitadas com o abandono do tabagismo. No Brasil, a data é destacada por instituições como o Instituto Nacional do Câncer (Inca) – subordinado ao Ministério da Saúde-, em parceria com Governos Estaduais e Prefeituras. Em 2018, o tema escolhido pela OMS foi: Tabaco e doença cardíaca.

O coordenador Estadual do Programa de Controle do Tabagismo no Amazonas, cardiologista Aristóteles Comte Alencar, reforça que o consumo de cigarro é considerado uma epidemia global, que mata sete milhões de pessoas ao ano, sendo 900 mil fumantes passivos. Quase 80% dos mais de 1 bilhão de fumantes no mundo vivem em países de baixa e média renda, onde o peso das doenças relacionadas ao tabagismo é maior.

De acordo com Aristóteles Alencar, os acidentes vasculares cerebrais (AVCs), infartos, transtornos mentais e diversas doenças crônicas, têm relação direta com o tabagismo. “Hoje, sabemos que o tabagismo é uma doença epidêmica, pois causa dependência física e psicológica, em função da nicotina”.

São mais de 4,7 mil substâncias químicas tóxicas em um único cigarro, incluindo o monóxido de carbono, amônia, entre outras. “Também encontramos na composição, diversas substâncias cancerígenas, a exemplo do arsênio, níquel, benzopireno, cádmio e chumbo. Ou seja: quanto mais cedo se abandona a dependência, menos exposto a essas substâncias o indivíduo ficará e menos chances terá de desenvolver diversas doenças ao longo da vida”, frisou o especialista.