Cirurgia realizada na FCecon combate o câncer de colo uterino e preserva a fertilidade de pacientes

Marcelo Henrique 1

A Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), unidade vinculada à Secretaria de Estado da Saúde (Susam), realizou, de forma inédita na rede pública estadual, uma Traquelectomia Radical, cirurgia para o tratamento do câncer de colo uterino, com preservação da fertilidade da paciente. O procedimento consiste na retirada da parte do colo uterino afetada pela doença, com margem de segurança oncológica, preservando o corpo do útero, o que possibilita a gravidez futura. De acordo com o cirurgião oncológico Marcelo Henrique dos Santos, responsável pelo procedimento, ele é indicado para pacientes com doença em estágio inicial (tumores de baixo risco com até dois centímetros). As chances de cura são de até 90%.

 

O câncer de colo uterino é o terceiro mais incidente nas mulheres brasileiras e o primeiro nas amazonenses, perdendo apenas para o câncer de mama. Segundo projeção mais recente do Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão subordinado ao Ministério da Saúde (MS), 680 novos casos são registrados anualmente no Estado, que ainda figura no topo da lista das unidades federativas com o maior número de diagnósticos para cada 100 mil habitantes (taxa bruta de incidência).

 

O especialista destaca que, na cirurgia convencional, denominada Histerectomia Radical, o útero inteiro é retirado, provocando a infertilidade. Na Traquelectomia, feita em duas etapas, a ressecção inclui a parte afetada pelo tumor, uma margem de segurança oncológica pré-determinada, além dos linfonodos, retirados através de Linfadenectomia (estruturas próximas aos vasos linfáticos), o que reduz a possibilidade de nova manifestação da doença (recidivas). Ao final, o corpo uterino acaba preservado.

 

O tempo de cirurgia, o período de recuperação e as chances de cura, são similares às de um procedimento convencional para o tratamento do câncer de colo uterino em estágio inicial. A Traquelectomia pode ser feita por via laparoscopica ou aberta, sendo a primeira modalidade, considerada minimamente invasiva, com recuperação pós-cirúrgica mais rápida. O percentual de chances de engravidar após o tratamento chegam a até 60%. Os melhores resultados são com possibilidade de reprodução assistida.

 

“A primeira cirurgia foi realizada em uma paciente com 31 anos e foi considerada um sucesso pela equipe médica. Ela já recebeu alta hospitalar e realiza acompanhamento periódico de equipe multidisciplinar, na FCecon, estando apta a engravidar”, explicou o cirurgião. De acordo com o especialista, não houve necessidade de complementação terapêutica com radioterapia ou quimioterapia.

 

A nova opção de tratamento será incorporada à rotina da FCecon e já é realizada em grandes centros do País, como o Hospital do Câncer de Barretos e o A.C. Camargo Center, ambos situados no estado de São Paulo. Ela passou a ser aplicada de forma frequente no País após estudos internacionais garantirem sua segurança.  “A seleção da paciente a ser submetida à Traquelectomia considera diversos fatores. Alguns deles são: estar em idade reprodutiva, não ter problemas de fertilidade, desejar uma gestação futura e ter diagnóstico de doença em estágio inicial”, frisou.

 

Estatística

 

A incorporação do procedimento na FCecon considerou estatísticas mundiais, as quais mostram que cerca de metade das pacientes acometidas pelo câncer de colo uterino, estão em idade reprodutiva. “A cirurgia convencional, invariavelmente, leva à infertilidade. Além do tratamento cirúrgico, também existe a opção de radioterapia, que causa sequelas que inviabilizam uma futura gravidez, por conta da radiação nos órgãos reprodutivos”, explicou Marcelo Henrique.

 

Outro fator mencionado pelo especialista é o impacto psicossocial da cirurgia convencional, já que algumas pacientes submetidas à Histerectomia Radical (remoção total do útero por via abdominal ou vaginal), acabam desenvolvendo depressão, estresse e até disfunção sexual. ”Portanto, a possibilidade de tratamento com preservação da fertilidade, deve ser discutida nos serviços de saúde, e o tratamento deve ser oferecido a essas mulheres”, opinou.