Tabagismo pode matar um bilhão de pessoas no século XXI
O Dia Mundial sem Tabaco, lembrado ontem em várias partes do planeta, trouxe à tona uma triste realidade: até o final deste século, cerca de um bilhão de pessoas devem morrer vítimas do que a Organização Mundial de Saúde (OMS) denomina como “epidemia tabagística”. Só este ano, a estimativa é que cinco milhões de pessoas venham a óbito em decorrência da exposição ou consumo do tabaco. No século passado o número de mortos chegou a 100 milhões de pessoas.
Os números alarmantes não param por aí. De acordo com o cardiologista e coordenador do Programa Estadual de Controle do Tabagismo no Amazonas, Dr. Aristóteles Comte de Alencar, o fumo está relacionado a 30% dos cânceres e a 40% das doenças cardiovasculares que acometem a humanidade. Ele também destaca que cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão e mais de 80% dos infartos é fruto do consumo de tabaco. Segundo o especialista, no caso do câncer de pulmão, a sobrevida é de no máximo cinco anos.
Ele destaca que o consumo prolongado entre 15 e 20 anos forma o grupo de risco mais suscetível às doenças deste tipo. “As doenças causadas pelo fumo atingem mais os homens do que as mulheres, porém, a diferença é mínima”, assegura. De acordo com Aristóteles, o percentual de pessoas que consegue deixar de fumar sem qualquer tipo de ajuda fica entre 3 e 5% dos fumantes. “As pessoas, geralmente, começam a fumar a partir dos 18 anos, quando estão mudando a personalidade”.
O cardiologista destaca, ainda, que nos últimos 20 anos o número de mulheres fumantes começou a aumentar gradativamente devido à exposição delas e a vida profissional mais intensa. Para o coordenador, a melhor maneira de reduzir os índices negativos é diminuir a oferta de cigarros _ evitando, por exemplo, o contrabando -, regulamentar o conteúdo, restringir o apoio e os subsídios relativos à produção, prever punições em lei – o que já é feito a partir de leis municipais e federais que proíbem o fumo em ambientes fechados-, entre outros.
As medidas estão previstas na Convenção – Quadro da OMS no Controle do Tabaco (Cqct), a qual foi realizada em 1999, culminando em um tratado mundial, cujo principal objetivo é reduzir a incidência de doenças relacionadas ao tabagismo e alertar a sociedade sobre a importância da orientação às gerações presentes e futuras das devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela exposição à fumaça do tabaco.
Angústia
O diretor-presidente da Fundação Centro de Controle de Oncologia (FCecon), especialista em pneumologia, Dr. Edson Andrade, falou da angústia das famílias que tem que lidar com a perda de entes queridos por conta dos males do tabaco, principalmente do câncer de pulmão. Ele destacou que a doença pode ser prevenida quase que na totalidade dos casos. Andrade lembra que o tabaco se diferencia de algumas drogas ilícitas, por exemplo, porque não tirar o indivíduo temporariamente da realidade. “Ele te causa o problema para você procurar a solução”.
Conscientização e redução dos índices
A Fundação faz um cronograma anual junto às Secretarias Municipal e Estadual de Educação, Semed e Seduc, respectivamente, para a realização de palestras educativas nas escolas de Manaus. As ações fazem parte do Programa Municipal de Controle do Tabagismo.
Segundo a coordenadora estadual de atenção oncológica, enfermeira Marília Muniz, o programa também oferece ajuda aos viciados que querem deixar o tabagismo e iniciar uma nova vida. Ela destaca que essas e outras medidas realizadas em parceria com unidades de saúde e gestores culminaram na redução do número de fumantes em Manaus.
Conforme pesquisa divulgada em abril deste ano pela Vigitel, Manaus foi a capital que registrou o maior número de homens ex-fumantes em uma classificação entre todas as capitais brasileiras. No caso das mulheres, o município ficou em terceiro lugar. “Quando uma pessoa fuma, temos que entender que ela é dependente e precisa de ajuda para deixar o vício. Para isso, os Ambulatórios de Atendimento ao Fumante que Deseja Parar de Fumar da Semsa, oferecem ajuda, fazendo avaliação e atestando se a pessoa precisa só de terapia ou tratamento medicamentoso”, disse.
Ao todo, dez ambulatórios funcionam com esse intuito: Policlínica Castelo Branco (Parque Dez), Policlínica Antônio Reis (São Lázaro), UBS Armando Mendes (Cidade Nova I), Policlínica José Antônio da Silva (Monte das Oliveiras), Policlínica Franco de Sá (Nova Esperança I), Módulo Vila da Prata (bairro de mesmo nome), Policlínica Comte Telles (São José II), Policlínica Enf. Ivone Lima dos Santos (Coroado III) e outras duas inauguradas hoje nas Zonas Leste e Oeste da cidade.
Segundo a diretora do Módulo Vila da Prata da Semsa, Sonaira Castro, o Programa Municipal de Controle do Tabagismo disponibiliza dois telefones para os interessados em deixar a dependência ou obter maiores informações: 3216-7760 e 3216-7751.