FCecon e Seap levam serviços de saúde a mulheres privadas de liberdade

Uma parceria entre a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon) e a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) possibilitou que mulheres privadas de liberdade do sistema prisional de Manaus – aberto, semiaberto, fechado e provisório – realizassem autocoleta e teste de DNA para detecção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), dentre elas o Papilomavírus humano (HPV) – responsável por causar as lesões precursoras do câncer de colo de útero.

A parceria ocorreu via projeto de iniciação científica “Prevalência de ISTs em mulheres privadas de liberdade no Amazonas acometidas com o vírus HPV”, desenvolvido pela estudante do 5º período de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Thaís Cristina Fonseca da Silva, sob a coordenação da médica mastologista da Fcecon, Hilka Espírito Santo.

A pesquisa foi conduzida no âmbito do Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic) da Fundação Cecon, órgão vinculado à Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM). Os resultados parciais foram apresentados nesta quarta-feira (17/03), durante as avaliações parciais do Paic, que prosseguem até esta sexta-feira (19/03). O programa é coordenado pela Diretoria de Ensino e Pesquisa (DEP) da unidade hospitalar e conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).

Pesquisa – Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Tocoginecologia da Universidade Estadual Júlio Mesquita de São Paulo (Unesp), Hilka Espírito Santos explica que o levantamento foi feito com 268 mulheres do sistema prisional de Manaus, em 2019, utilizando como base os dados de sua tese de doutorado. Ela diz que foi verificado o risco de mulheres diagnosticadas com ISTs, em associação com o HPV persistente, desenvolverem câncer de colo de útero.

Do total de mulheres que participaram da pesquisa, pontua a médica especialista, 87 foram diagnosticadas com HPV, sendo que 39 (44,8%) testaram positivo para ISTs. “Avaliamos as ISTs causadas por bactérias encontradas nos órgãos genitais e nas vias urinárias, por exemplo, micoplasma, clamídia, cândida e estreptococos. Verificamos que a bactéria mais frequente foi a micoplasma”, frisa.

Segundo a médica especialista, as ISTs atuam como cofatores para a persistência do HPV no organismo da mulher e, assim, ao provável desenvolvimento de lesões precursoras de câncer de colo de útero, e até mesmo o câncer, quando não tratadas com antecedência.

Doenças – As bactérias detectadas durante os exames podem causar secreção vaginal, processo inflamatório, doença inflamatória pélvica, que pode evoluir para infertilidade nas mulheres.

Acompanhamento – A coordenadora de Saúde do Sistema Prisional do Amazonas (CSSPAM/Seap), Alyne Botelho, esclarece que, após realizarem a autocoleta e teste de DNA para o HPV, e detecção do vírus, as internas do sistema prisional foram submetidas a exames de colposcopia, citologia de meio líquido e biópsia, além de terem recebido os cuidados necessários.

A Coordenadoria de Saúde realiza o monitoramento permanente, informa Botelho, dos casos confirmados de ISTs no sistema prisional. “As demais internas recebem atendimento especializado com ginecologista dentro das unidades femininas, e também fazem exames periódicos de Papanicolau”, destaca.

Parcerias – O projeto conta com o apoio do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJ-AM), por meio da Vara de Execuções de Medidas e Penas Alternativas (Vemepa), Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio do Programa Justiça Presente, Lar das Marias, Seap e Unesp.

Autocoleta – É um método utilizado em vários países desenvolvidos por populações com dificuldades de acesso à saúde. O dispositivo de autocoleta permite que a própria mulher, sozinha – em um ambiente privado – introduza o aparelho no canal vaginal, sendo semelhante a um aplicador de creme vaginal.

 

Texto: Luís Mansueto/FCecon

Fotos: Arquivo FCecon 2019 e Arquivo Seap 2019